Whitefall: Um invasor gelado em nosso mundo - Capítulo 1
Era uma noite fria…
Não apenas pela temperatura, mas também pelo clima tenso que se formava em meio à névoa noturna, e o silêncio ensurdecedor que corria por toda aquela vasta planície, que se assemelhava a algum pasto ou plantação, não dava para dizer.
Junto às brilhantes luzes das estrelas no céu, outras luzes se misturavam: lanternas, faróis, e até mesmo pequenos pontos vermelhos corriam por toda aquela extensão.
Eram soldados… Muitos soldados
Menos de uma centena obviamente, porém muito bem equipados. Usavam fardas pretas quase invisíveis à noite, com seus tecnológicos capacetes que lhe concediam visão noturna. Em suas mãos, nenhuma arma leve: Apenas submetralhadoras, fuzis e armas de destruição em área.
Também não estavam a pé. Desde veículos offroad com metralhadoras acopladas, até um ou dois helicópteros no céu, que iluminavam o local. Aqueles homens não estavam ali pra brincadeira.
Mas onde estavam? Simples, na possível área onde encontrariam uma ocorrência alienígena.
Por anos e anos no planeta Terra, a existência de extraterrestres foi especulada. Eles existem e o governo está os escondendo da população? Não exatamente, até o dia de hoje, realmente nunca foi sequer encontrado o mínimo registro de vida fora da Terra.
Até o dia de hoje.
— Senhor! Primeiro Sargento se reportando!
— Diga, rapaz.
— Encontramos o local da queda, senhor! Está a menos de 200 metros ao norte.
— O que estamos esperando então?! Vamos!
Um cometa. Isso foi o que os astrônomos detectaram em seus radares. Normalmente isso não chamaria a atenção de ninguém, mas esse cometa… era diferente.
Era pequeno, pequeno demais. Os mais pequenos variam entre centenas de metros e quilômetros de diâmetro, mas este tinha aproximadamente 30 metros, o que já era estranho por si só. Porém, mais bizarro ainda era a sua rota.
O objeto surgiu de repente nos radares, como se estivesse se movendo muito rápido, e depois simplesmente desacelerou à uma velocidade segura, antes de colidir com a Terra. Era como se tivesse vida, ou alguma espécie de comando.
— Senhor! Aqui estamos, senhor!
Uma cratera gigantesca estava em fumaça naquele campo. Devido à neblina, mal era possível ver a tamanha pedra de gelo, que não havia se decomposto totalmente na atmosfera.
— É realmente… muito estranho – O velho capitão da missão tirou seu capacete preto, enquanto deslizava sobre o barranco para chegar ao objeto
— Senhor espere! É muito perigoso!
— Perigoso? Ah, não me faça rir – O homem andava até a pedra de gelo. Seus olhos brilhavam com a ganância de achar algum mineral precioso no objeto espacial.
Pena… que seus olhos não brilharam por muito tempo.
— C-C-CA…CAPITÃO!!!!
O que antes era seu abdômen, não havia se tornado nada mais do que puro gelo. Ele sentia internamente os cristais de água se formando, e rasgando seus tecidos.
Ele apenas percebeu que uma porta havia sido aberta no cometa tarde demais. Nos seus últimos segundos de vida… ele enxerga algo aterrorizante saindo da pedra escura… Um demônio gelado.
Enquanto caía já sem vida no chão, o capitão tinha sua cabeça esmagada por um pé insectóide, quebrada em mil pedaços de gelo vermelho. Mais frio que isso só o calafrio nas almas dos soldados, que viram aquela criatura surgindo da neblina.
Era horrível… Completamente branco como a neve, com seus profundos olhos negros, e suas brilhantes pupilas azuis. Sua cabeça se assemelhava à uma caveira aterrorizante, com chifres curvados de um demônio.
Suas mãos não tinham dedos, e sim quatro grossas garras em cada uma delas. Já seus pés tinham apenas três, que se assemelhavam a um ‘Y’, como as patas de um falcão. Em suas costas, a criatura tinha asas… não as de demônio, e muito menos as de um anjo. Mas sim asas de besouro, escondidas por aquela carapaça branca.
— A-ATIREM!
— QUE MERDA É ESSA?!
— MATEM! MATEM ESSA COISA!
Agora, junto a todas aquelas luzes, um vulto branco se unia à névoa e causava desespero aos homens. Gritos podiam ser ouvidos de todos os cantos, com homens sendo transformados em cubos gélidos a cada instante.
Ser morto com gelo, causava mais ou menos dor? Essa era a preocupação de muitos daqueles soldados, que já haviam parado de atirar e se jogado ao chão, esperando a morte.
Já outros, ainda pareciam resistir. Não resistir à criatura, mas resistir à loucura que os consumia. Alguns procuravam manter a calma, enquanto outros já estavam atirando para todo canto desesperado.
Mais gelada que aquela noite, apenas o frio dos cadáveres ao chão.
Um dos soldados, já sem uma das pernas, se arrastava pela grama em direção ao corpo de seu colega de trabalho, desmembrado. Desesperado, o homem pega o rádio:
— S-SOCORRO! MANDE REFORÇOS! P-POR FAVOR! A CRIATURA VAI ME MATAR!
O soldado ouvia passos atrás da rocha na qual se escondia.
Ele apenas ouviu sua voz medonha, que ecoou em todo o seu ser. Antes de ter seu corpo transformado em neve vermelha
— Boa noite, humano.
×××
— Meu deus… o que aconteceu aqui?
Quando os reforços chegaram, eles apenas conseguiam olhar com horror para aquela cena. Um campo de guerra unilateral, uma chacina, um massacre.
Haviam desde soldados sem cabeça, até homens atravessados por estacas de gelo que saiam do chão. O sangue derretia junto à água e escorria, e era quase possível ouví-lo pingar pelo vasto campo.
Junto aos soldados, segurando as lágrimas de seus olhos, estava uma pessoa de aparência inusitada. Uma mulher de olhos azuis, cabelo loiro amarrado e uma roupa executiva, junto a uma espada de quase um metro inteiro.
— Senhorita Cristine! Reportando!
— Diga logo… – Ela limpava seu rosto com a manga da blusa. Mesmo fragilizada, ela não poderia se chocar numa situação como aquela – Algum sobrevivente?
— Não… infelizmente não, senhorita.
— E o que fez isso? Um alien?
— Não sabemos… Parecia uma criatura com garras, e provavelmente com habilidades relacionadas à gelo… talvez fosse um Transformado.
— Sinto que estamos lidando com algo pior do que isso…
O ódio se acumula no coração de Cristine.
“Por quê? O que levaria alguém a causar tanta crueldade? Seria algum ser que simplesmente não se importava com a vida humana?”
Seu rosto começava a faiscar…
Sua pele começava a se desfazer em luz, e pouco a pouco uma superfície de metal surgia nos locais por onde as faíscas passavam.
Cristine estava assumindo sua transformação… Até ser interrompida.
— SENHORITA! – Um outro soldado corria até ali, como se sua vida dependesse disso. Chegando à frente de Cristine, ele se apoia sobre os próprios joelhos, respirando um pouco.
— O que foi?! Acharam o monstro?
— Não… pior… perdemos ele.
Os olhos da Cavaleira se arregalaram.
Aquelas mesmas faíscas se espalhavam por suas pernas, as transformando em uma espécie de armadura cinza. Era como se as peças metálicas tivessem se tornado a sua pele… ou vice versa.
Com aquelas pernas, ela corria, deixando poeira e um estrondo pra trás. Seu objetivo? O local da queda.
E como ela mais temia…
— Ele… fugiu…
Enquanto o resto de neblina se dissipou naquela escuridão, tudo que a garota via… Era uma cratera vazia.
×××
Já muito longe dali, algo se movia pelos céus. Não era um cometa, e sim o que havia saído de dentro dele: Uma nave. Mais especificamente uma Frostbite II, o modelo projetado para viagens interestelares.
Enquanto pousava sua nave silenciosamente em uma montanha, a criatura saía pelas portas retráteis. Antes de qualquer coisa, sua primeira ação foi se sentar sobre uma pedra, enquanto olhava para a paisagem.
Ele olhava para suas mãos, agora cobertas por neve vermelha…
— Realmente… aquilo foi necessário?
Ele estava desarmado, o que só sobrava pra ele partir pro combate corpo-a-corpo, mas ele não sabia que humanos eram tão frágeis assim. Pelo visto, suas informações estavam certas.
Mesmo assim, tudo era preciso? Ele nem estava ali por pura vontade… A sensação de rasgar carne humana era diferente. Não era a mesma de rasgar seus inimigos.
Talvez porque eles são as vítimas ali… e Rei tinha consciência disso.
— Maldita guerra…
Aquela neve vermelha derretia, junto ao seu corpo branco. O que antes eram escamas, se tornaram em pele normal, seus chifres derretiam, dando lugar a um longo cabelo preto, com mechas azuis.
Suas patas insectóides derretiam, dando lugar à mãos normais. E sua carapaça escorria, revelando que por baixo, ele usava um estranho sobretudo preto: a roupa militar de seu planeta.
— Bem… não importa. Afinal, eu não tenho escolha
Se levantando daquela pedra, Rei toca sua íris azul com a ponta do dedo. Seu olho brilha, devido à lente-scanner instalada nele. Fazendo uma varredura da área, ele começa a planejar como proceder.
— Sinto muito pelos humanos… Mas não há nada a ser feito. Eu sou um soldado Terrafryano, e um soldado segue ordens.
A dezenas de quilômetros daquela montanha, Rei conseguia notar um grande acúmulo de pessoas. Provavelmente era uma cidade… e seu próximo alvo.
— Eu, Azure Rei, membro da honrada família Azure, tenho uma missão. E infelizmente, esse planeta… estará sob meu domínio.