Whitefall: Um invasor gelado em nosso mundo - Capítulo 17
— Oh, então vieram estudar? Mesmo com a biblioteca sempre cheia, poucos realmente estudam aqui, que legal da parte de vocês.
— Não é? Tem tantos livros incríveis aqui! As pessoas realmente estão se deixando levar pela tecnologia, e esquecendo o quão bom é um livro físico.
— Sim, eu também acho! Nada supera um manuscrito feito com alma!
Tinham acabado de se conhecer, mas Lilly e Cristine pareciam amigas de infância. E estando numa biblioteca, um grande perigo se aproximava: Duas leitoras discutindo sobre seus livros favoritos.
Prevendo a conversa intelectual maçante, Mia as interrompe.
— M-Mas então, senhorita Cristine, veio estudar pra quê?
— Ah, eu? Pra nada especial, mas acho que conhecimento é importante.
— Que legal! Não é R-
Antes que Mia pudesse falar o nome dele, Rei dava uma breve cotovelada nela. Mesmo que seu sangue fosse prateado e por isso ele já era normalmente pálido, agora ele parecia mais branco que o normal.
— Red! Meu nome é Red. Prazer, senhorita Cristine.
— Red? Mas seu nome é R- – Mia se cala com outra cotovelada, dessa vez de sua irmã.
— Red Lane – A irmã mais velha disse. – Eu sou Lilly Lane, e essa é minha irmã mais nova, Mia Lane.
— Oh, os irmãos Lane? Que bela família!
Enquanto ambas continuavam conversando amigavelmente, Rei se aproximava de Lilly, com as pernas juntas como um pinguim. Ele começava a beliscar sua ‘irmã’, tentando avisá-la.
Irritada, com um tique no olho esquerdo, ela o responde, com sua voz escondendo incômodo.
— Sim… meu irmãozinho… Qual o problema?
—…cavaleira – Se aproximando dela, ele cochichou baixo, em seu ouvido. Cristine apenas observa, mantendo um sorriso no rosto.
Porém, a garota não entende a gravidade da situação, e responde Rei em voz alta.
— Cavaleira? O que quer dizer com isso?
Cristine, que até agora não estava prestando muita atenção no rapaz e sendo apenas gentil, de repente fecha levemente os olhos para ele. E ele com certeza percebeu aquilo, mas fingiu não notar.
— N-Nada não, me desculpa irmãzona… – Ele dá alguns passos pra trás, percebendo a burrada que Lilly fez.
De repente, a própria Cristine interrompe sua conversa com Lilly, e começa a se demonstrar mais generosa do que o normal.
— Então, já que estamos aqui, o que vocês acham de irmos para um local especial?
— Ooh, que tipo? – Perguntava Lilly, animada por talvez ter conseguido uma amiga nova.
— Uma das salas privadas.
— Como!?
Salas privadas eram locais que podiam ser comprados ou alugados na biblioteca, que ficavam em um setor específico. Lá, você podia levar livros e lê-los com privacidade, visto que a biblioteca era cheia demais para um ‘controle de silêncio’.
— Eu adoraria mas… – Lilly pegava sua carteira do bolso e a abria. Ali jazia o maior vazio deste universo, que se espalhava para o coração da garota.
— Está tudo bem, a sala é minha. – Dizia Cristine, que tentava acalmar a menina, que estava quase chorando.
— S-Sua? Mas eu não poderia usar algo tão caro!
— Não se importe com isso. Vamos, é um convite especial meu.
Mesmo que Lilly quisesse isso mais que tudo, ela decidiu olhar para os dois, buscando alguma aprovação. Mia concordava com a cabeça como uma criança animada, enquanto Rei parecia querer negar, mas provavelmente era só coisa de alien burro.
— Bem… eu acho que não tem problema, não é pessoal?
×××
Enquanto andavam pela biblioteca em direção às salas, Cristine começava a avançar sobre Rei. Obviamente ela percebeu que ele sabia quem era ela, e queria descobrir como.
Mas as garotas, que andavam um pouco atrás , não pensaram nisso.
— Irmã… você percebeu?
— Sim… acho que ela tá gostando dele…
— Isso pode ser uma vantagem, não pode?
— Como assim, Lilly?
Rei pretendia entrar em contato com seu planeta para impedir a invasão, mas nada garantia que ele não as trairia e os chamasse de vez pra cá. Então, quanto mais apreço ele tivesse pela Terra, menor seria a chance disso acontecer.
— Você quer dizer que…
— Talvez,caso ele se apaixone…
— Ele não se torne o cara mau?!
Bem, as coisas funcionam diferente na cabeça das duas, mas em resumo, ambas tinham a mesma intenção. Pena que elas não sabiam o que realmente estava acontecendo ali.
Enquanto isso, caminhando lado a lado, estava a mulher desconfiada e o E.T. congelado. Sem piadinhas com gelo, ele realmente estava congelado.
— Então.. Red, não é?
— S-Sim, senhorita.
— Se me permite a grosseria, pra quê essa bengala?
— Ah, é… eu me machuquei… num exercício.
— Jura? Algum machucado na perna?
— Não não… só o corpo meio fraco.
A garota olhava para ele, com um sorriso no outro, percebendo o quão incomodado ele estava… Ele já havia percebido que ela era a Sétima-Sol, e isso para ela era um problema.
— Vamos lá, não precisa ser tão formal comigo. Eu sou só uma garota da sua idade andando pela biblioteca.
— Minha idade? Você parece mais-
— Sua idade, exatamente.
Não que ela parecesse velha, mas usava as roupas de uma. Na cabeça de Rei, não muito conhecedor de mulheres humanas, ela talvez fosse uma jovem senhora.
— Me diga… Red… Já nos vimos em algum lugar?
— P-Perdão?
— É que você parece bem nervoso… como se me conhecesse de outro lugar, não?
— Não, nada disso – Rei dizia, esfregando levemente o próprio braço – E-Eu apenas estou com frio, é isso.
— Frio? Mas não está tão… oh, na verdade você tem razão.
Cristine sentiu a temperatura ao redor diminuir um pouco… Talvez por causa de suas roupas, ela achasse que estava calor. Bem, acontece.
— Enfim, aqui estamos!
— Wow… que lindo.
A arquitetura da biblioteca era antiga, então obviamente suas salas também se pareciam com salões antigos. Este, um pouco menor, não perdia em nada com seu tamanho.
— Realmente… é bonito – O rapaz dizia, parecendo um pouco mais tranquilo.
— Não é? Venha Lilly, eu te mostro tudo em volta
— Certo!
Enquanto Cristine e Lilly andavam pelo local, como crianças em um museu de dinossauros, finalmente Rei e Mia ficaram sozinhos. A garota, que já tinha notado ele estranho há um tempo, chegou até ele, questionando-o.
— Rei… você tá meio quieto… – Ela dizia, com os braços pra trás em timidez – Por acaso gosta dela?
— O Quê?! – Ele fala um pouco mais alto sem querer, fazendo com que as garotas o olhassem por um instante. Acenando com a cabeça dizendo que não é nada, ele começa a gesticular.
Ela
Meu peito
Atravessou
Foram esses os sinais que ele fez… e Mia os compreendeu perfeitamente. A garota loira tinha mexido com seu coração.
— Entendo…
— Finalmente entendeu!
— Quer ficar a sós com ela?
— O-O quê?! Não! Eu-
— Não precisa ficar com vergonha. Lilly!
Antes que ele pudesse se explicar, Mia vai até sua irmã. Afinal, ela quer que Rei seja feliz, e talvez isso ajude o planeta.
— Lilly, vamos buscar alguns livros?
— Mas tem vários aq- – Mia a belisca levemente, lembrando-a do plano – Aaah sim, livros, vamos! Tudo bem pra você, Cristine?
— Ah, claro. Eu posso ficar conversando com seu irmão, não é, Red?
— Não-… seria tão ruim.
Juntas, as irmãs Lane se retiravam da sala, deixando-os a sós. Se o plano funcionasse, talvez Lilly até conseguiria ficar mais vezes naquela sala! Não seria incrível?
Porém, mal sabiam elas do que tinham acabado de fazer.
— Senhor Red… Você sabe que eu sou a Cavaleira… não sabe?